terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Biblioteca: Clube de Leitura e Escrita

A Ganância

Era uma vez, numa aldeia, perto da Floresta das Tulipas, um homem velho, muito velho, além de velho, feio e rezingão, que usava na ponta do seu nariz de meio metro uns óculos minúsculos de ver ao perto. Ninguém percebia por que os usava, pois ele via tão bem que se uma formiga passasse no canto da sua cozinha, não escapava à sua maldade e era logo esmagada pelos seus magíficos e pontiagudos sapatos, comprados dois séculos antes (porque a vida está cara e é preciso poupar).
O Velho não gostava de falar com os outros habitantes da aldeia, raramente saía, nunca se juntava aos jogadores de cartas no largo e se, quando passava a correr em direcção a casa o convidavam para se sentar e jogar, respondia sempre:
- Estou com pressa, não tenho tempo para brincadeiras.
E seguia rapidamente o seu caminho.
Ninguém sabia o que ele tanto tinha para fazer, pois era velho, muito velho e além de velho, era feio e rezingão, talvez por isso nunca casou, nem teve filhos. Ainda bem, pois o Velho detestava crianças e os poucos que viviam na aldeia, quando se aproximavam da sua casa, eram corridos à pedrada.
- Fora daqui! Não quero aqui canalha a prejudicar o meu sossego!
A sua forma de vida começou a intrigar os habitantes da aldeia que o estranhavam cada vez mais.
Certo dia, o Barbeiro, um homem jovem e esperto, sempre a par de todas as novidades da aldeia e arredores, vendo o Velho passar a correr em direcção à Floresta das Tulipas, disse para o Merceeiro, a quem naquele momento aparava o cabelo:
- Este Velho anda a pregá-las! Não sei o que tanto o faz correr para a floresta… Será que lá tem escondida alguma Bela, quero dizer, Velha Adormecida? Ahhhhhhh!- e desatam os dois a rir.
- É maluco, só pode! Quando vai lá à mercearia só compra batatas, ovos e bacalhau. Diz que é para fazer Bacalhau à Brás, que lhe dá logo para a semana e com umas batatas e um repolhito da horta faz uma sopa de regalar. Depois, quando lhe faço a conta, lamenta-se que a vida está cara, que eu aumento os preços todas as semanas e por fim despeja um saco imundo com moedas que conta uma a uma para me pagar. Ando farto dele! – e, despedindo-se, saiu da barbearia.
O Barbeiro ficou a matutar naquela história do saco e pensou:
- Ai Velho, Velho, vou ter-te debaixo de olho.
E passou a espiá-lo.
No dia seguinte, de manhã bem cedinho, ainda antes de todos os habitantes da aldeia se levantarem, foi à barbearia e colocou na porta um letreiro que dizia: “ FECHADO PARA FÉRIAS”. Voltou a casa, disfarçou-se o melhor que conseguiu e preparou-se para seguir as pisadas do Velho.
- Hoje é que não me escapas!
E não deu o seu tempo por perdido. Logo avistou o velho que seguia apressado em direcção à Floresta das Tulipas. Deu-lhe algum espaço, para não ser visto, e escondeu-se atrás de uma árvore. O Velho meteu-se na Floresta, depois de olhar bem à sua volta, a ver se não via ninguém. Passado um bocado, pôs o nariz de fora da Floresta, espreitou para a esquerda e para a direita, novamente para a esquerda e para a direita. Foi aí que o Barbeiro reparou que o Velho tinha uma caneta de pena na cabeça, além dos seus famosos óculos, o que o intrigou ainda mais.
Mas o melhor estava para vir. Ao virar-se novamente em direcção à Floresta, o Velho deixou escapar uma nota… UMA NOTAAA!
O Barbeiro não conseguiu controlar-se e foi espreitar. Foi então que viu o Velho debruçado num poço, de onde saíam moedas e notas valiosas. Cada uma que tirava, registava no seu enorme caderno de apontamentos, com a caneta de pena que tirava da cabeça. Depois, quando o dia se aproximava do fim, voltou à entrada da Floresta e espreitou para a esquerda e para a direita e atravessou um caminho, colocou o produto do seu trabalho numa panela de barro e enterrou-a junto da grande árvore onde o Barbeiro se escondera. Regressou, depois, à aldeia com algumas moedas no saco imundo de que o merceeiro lhe falara e como era dia de compras, entrou na mercearia.
O Barbeiro regressou à Floresta das Tulipas e desenterrou todo o tesouro do Velho. Depois, passou a noite a tirar notas e moedas do poço. Por fim partiu.
Foi nesse dia que, ao esperto Barbeiro lhe saiu a lotaria e FOI de FÉRIAS.
Quando voltou à Floresta e viu que tinha sido roubado, o Velho correu em direcção à aldeia a gritar:
- Fui roubado!!! Que alguém me acuda!!! Roubaram-me o meu tesouro!!! - e corria de um lado para o outro, com os óculos na ponta do nariz e a caneta de pena enfiada na cabeça.
- Enlouqueceu. – disseram os homens que jogavam cartas, no largo da aldeia.
- Qual tesouro, qual quê! Nem uns sapatos comprava!
Gritou sem parar durante uma semana. Tiveram que o internar num manicómio bem longe, pois já não o podiam ouvir mais.
Mas, não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe, como diz o povo.
Certo dia, chegou a notícia da morte do Barbeiro. Quando gozava férias numa ilha paradisíaca, do outro lado do mundo, deu conta que fora roubado. Enquanto bebia umas águas de coco, alguém levou todo o seu dinheiro e ao aperceber-se disso, teve um ataque cardíaco e morreu.
Quanto ao Velho pouco se sabe, mas, dizem as más línguas da aldeia, encontrou a sua Velha Adormecida no manicómio, deixou de ser tão rezingão e foram felizes para sempre.
Trabalho realizado por: João Miguel Paulino e Carlos, 9ºA, nº14

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