sexta-feira, 17 de setembro de 2010

José Saramago - Autor do Mês de Setembro nas bibliotecas de Pinhel


José Saramago na Escola Secundária/3 de Pinhel no dia 27 de Outubro de 2003


Algumas obras de José Saramago adquiridas recentemente pela Biblioteca da Escola Secundária/3 de Pinhel, com apoio da F. C. Gulbenkian (ver lista completa na plataforma moodle - http://moodle.aepinhel.org/:




Pode, ainda, consultar neste blogue o marcador "Saramago" ou clique aqui.


Excerto do livro Viagem a Portugal de José Saramago:

Foi dito que entre Pinhel e Cidadelhe são vinte e cinco quilóme­tros. Juntem-se-lhes mais quarenta entre Guarda e Pinhel. Dá para con­versar muito e é sabido que ninguém conversa mais do que duas pes­soas que, mal se conhecendo, têm de viajar juntas. Às tantas já se trocam confidências, já se confiam vidas para além do que é geralmente con­tado, e então se descobre como é fácil entenderem-se pessoas no sim­ples acto de falar, quando não se quer que no espírito do outro fiquem suspeitas de pouca sinceridade, insuportáveis quando se vai de compa­nhia. O viajante ficou amigo do chefe de mesa, ouviu e falou, pergun­tou e respondeu, fizeram ambos uma excelente viagem. Em Pêra do Moço há um dólmen, e Guerra, sabendo ao que anda o viajante, apontou-o. Mas este dólmen não é dos que o viajante aprecia, não tem segre­dos nem mistério, está ali à beira da estrada, no meio do campo culti­vado, nem lá se chega nem apetece. Dólmenes tem visto, porém nem já deles fala, para não confundir nas suas recordações aquela mamoa da Queimada onde ouviu bater um coração. Então julgou que era o seu próprio. Hoje, a tão grande distância e tantos dias passados, não tem a certeza.
Já Pinhel ficou para trás, agora as estradas são caminhos de mal andar, e depois do Azevo o que se vê é um grande deserto de montes, com terras tratadas onde foi possível. Há searas, breves, as de mais imenso verde são de centeio, as outras de trigo. E nas terras baixas cultiva-se a batata, o geral legume. Pratica-se uma economia de subsis­tência, come-se do que se semeia e planta.

Excerto do livro Viagem a Portugal, de José SARAMAGO. Lisboa. Caminho. 15.ª edição, 1998 (excerto, p. 161-162).

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