"Com licença poética", poema de Adélia Prado lido por Cristina Dias
Quando
nasci um anjo esbelto,
desses
que tocam trombeta, anunciou:
vai
carregar bandeira.
Cargo
muito pesado pra mulher,
esta
espécie ainda envergonhada.
Aceito
os subterfúgios que me cabem,
sem
precisar mentir.
Não
sou tão feia que não possa casar,
acho
o Rio de Janeiro uma beleza e
ora
sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas
o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro
linhagens, fundo reinos
--
dor não é amargura.
Minha
tristeza não tem pedigree,
já
a minha vontade de alegria,
sua
raiz vai ao meu mil avô.
Vai
ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher
é desdobrável. Eu sou.
Adélia Prado
Pode ler aqui, a biografia da poetisa brasileira Adélia Prado: https://www.ebiografia.com/adelia_prado/
Ouça o podcast sobre o Dia Internacional da Mulher:
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