O Plano Anual de Actividades, do grupo de Filosofia, contemplava, entre outros, o concurso de textos filosóficos. Depois da recolha e selecção dos textos elaborados pelos alunos de Filosofia (10.º e 11.º anos), o júri constituído pelos professores Céu Ferreira, Carlos Adaixo e Manuel Perestrelo, seleccionou, por unanimidade, o texto abaixo apresentado. O prémio foi o livro, Felicidade Paradoxal do filósofo Gilles Lipovetsky onde retrata a sociedade do hiperconsumo. A sua entrega realizou-se no dia oito de Junho, na sala quatro da Escola sede.
Este tipo de evento é fundamental para promover a criatividade e as competências argumentativas bem como as capacidades de trabalho e espírito crítico/ reflexivo dos alunos.
Este tipo de evento é fundamental para promover a criatividade e as competências argumentativas bem como as capacidades de trabalho e espírito crítico/ reflexivo dos alunos.
Prof. Maria do Céu Ferreira
As implicações éticas no conhecimento científico e tecnológico
Para Ti, ser omnisciente e omnipresente
Como sabes, pediram-me que escrevesse um texto sobre as implicações éticas no conhecimento científico e tecnológico, porém eu não sei o que dizer. Não agora, enquanto sou meramente uma adolescente “tão inocentemente egoísta e ingénua quanto a idade o permite e justifica …”
Bem, acho mesmo que o melhor é começar devagar, por aquilo que conheço por experiência própria de maneira a que consiga alcançar tal tema tão ilimitável e “desconhecido” para a minha geração.
Alguma vez comparaste a amizade a uma corda infinita que se pode puxar quando e durante quanto tempo se quiser, pois esta nunca acaba? Eu já! O pior é quando descobrimos que a corda não é infinita, que, quando precisamos e puxamos, esta acaba e ninguém a está a segurar, o que nos faz cair num poço sem fundo, sem esperança à vista…
Provavelmente, deves estar a perguntar-te por que raio é que eu vim com esta conversa quando era suposto falar de algo tão “objectivo” quanto o tema inicial deste texto. O que eu quero mostrar-te é que, apesar de ter apenas quinze curtos anos de existência, não sou tão idiota quanto a sociedade actual o julga!
É absolutamente inadmissível a maneira como o Homem mascara/relativiza a realidade consoante muito bem quer e lhe apetece e nós, adultos de amanhã, caímos que nem um patinhos!... É impossível negar que estamos a entrar em decadência, tanto em valores morais como em capacidades intelectuais e qualitativas. Por vezes pergunto-me onde é que vamos parar… É óbvio que sem evolução a nossa espécie não subsistiria! Às vezes questiono-me como é que nos pudeste abandonar no mundo tão biologicamente desarmados… Ao contrário dos outros animais, somos uns “desgraçadinhos”! Sendo fisicamente tão desprotegidos, só temos uma única arma que nos permite subsistir, progredir e conquistar. A questão é explicar qual arma que realmente nos define.
Para uns, é indiscutivelmente a inteligência. É ela que nos permite avançar, que nos serve de portal ao conhecimento e ao poder. A busca incessante pela verdade, pela sabedoria, por algo que nos permita ascender, que nos sirva de aspiração a um estado de sapiência sem limites, à pretensão de reduzir a ignorância e perplexidade que sentimos perante nós mesmos e o mundo que nos rodeia é, sem dúvida, um dos aspectos que nos permite vingar no mundo e deixar a nossa marca pela História. Não é à toa que o conhecimento, nomeadamente científico e tecnológico, nos permitiu e nos permite superar as nossas fragilidades enquanto seres animais.
Todavia, os seus avanços obrigam-me a reflectir incessantemente e a questionar-me enquanto ser humano. Bem, tenta ver as coisas sobre o meu ponto de vista, ainda que este seja tão insignificante e imaturo quando comparado com o teu:
Observa o caso da clonagem. Pensar que caso algo de mal nos aconteça, existe uma maneira pela qual nos podemos salvar, é algo de espectacular. Como sabes, todo o ser humano tem a secreta esperança de viver para sempre, no entanto, eu pergunto-me: será correcta a clonagem de seres humanos?
Infelizmente, o Homem nem sempre utiliza o poder do conhecimento para boas causas. Salvar vidas humanas, é correcto, certo? Contrariar a selecção natural é um acto humanitário, não é? Pois, eu penso que sim. A verdadeira questão é: que preço estamos dispostos a pagar por isso?
Ainda no outro dia li, numa revista científica, que se não fossem as associações que promovem a ética e os valores humanos, nomeadamente na Medicina, já teriam sido fabricados clones sem cabeça de maneira a que se lhe pudessem extrair os órgãos, a pele, etc., para transplantes cirúrgicos.
É então que eu me pergunto: estará isto correcto? Será que matar esses clones, mesmo que estes não tenham cabeça, não será um crime? Será correcto e moralmente aceitável fazê-lo?
Numa sociedade onde o conhecimento científico e tecnológico é tão esmerado, tão incentivado e onde os valores morais estão cada vez mais esquecidos e deturpados, o perigo é iminente. Até ao momento, tem havido algumas entidades que dizem NÃO a estas brutalidades.
No entanto, o meu medo é que, com o desprezo crescente pelos verdadeiros valores que caracterizam a Humanidade, amanhã o ser humano não saiba distinguir entre o que está correcto e o que está errado, entre o que é humano e o que é monstruoso.
Penso que, se a verdade, o amor, a justiça e a dignidade humana continuarem a ser relativizadas, os humanos perderam aquilo que realmente os define: a compaixão, a generosidade; para passarem a ser autênticos monstros frios e sem escrúpulos.
Como tal, enquanto adulta de amanhã, não deixarei que as implicações éticas se afastem do conhecimento científico e tecnológico, no que toca à minha pessoa e a todas aquelas que eu conseguir alcançar, pois, sem elas, “ a corda infinita esgotar-se-á e cairemos num poço sem fim, sem que alguém nos possa alcançar”.
Ana Falcão, 10ºA, n.º2
Para Ti, ser omnisciente e omnipresente
Como sabes, pediram-me que escrevesse um texto sobre as implicações éticas no conhecimento científico e tecnológico, porém eu não sei o que dizer. Não agora, enquanto sou meramente uma adolescente “tão inocentemente egoísta e ingénua quanto a idade o permite e justifica …”
Bem, acho mesmo que o melhor é começar devagar, por aquilo que conheço por experiência própria de maneira a que consiga alcançar tal tema tão ilimitável e “desconhecido” para a minha geração.
Alguma vez comparaste a amizade a uma corda infinita que se pode puxar quando e durante quanto tempo se quiser, pois esta nunca acaba? Eu já! O pior é quando descobrimos que a corda não é infinita, que, quando precisamos e puxamos, esta acaba e ninguém a está a segurar, o que nos faz cair num poço sem fundo, sem esperança à vista…
Provavelmente, deves estar a perguntar-te por que raio é que eu vim com esta conversa quando era suposto falar de algo tão “objectivo” quanto o tema inicial deste texto. O que eu quero mostrar-te é que, apesar de ter apenas quinze curtos anos de existência, não sou tão idiota quanto a sociedade actual o julga!
É absolutamente inadmissível a maneira como o Homem mascara/relativiza a realidade consoante muito bem quer e lhe apetece e nós, adultos de amanhã, caímos que nem um patinhos!... É impossível negar que estamos a entrar em decadência, tanto em valores morais como em capacidades intelectuais e qualitativas. Por vezes pergunto-me onde é que vamos parar… É óbvio que sem evolução a nossa espécie não subsistiria! Às vezes questiono-me como é que nos pudeste abandonar no mundo tão biologicamente desarmados… Ao contrário dos outros animais, somos uns “desgraçadinhos”! Sendo fisicamente tão desprotegidos, só temos uma única arma que nos permite subsistir, progredir e conquistar. A questão é explicar qual arma que realmente nos define.
Para uns, é indiscutivelmente a inteligência. É ela que nos permite avançar, que nos serve de portal ao conhecimento e ao poder. A busca incessante pela verdade, pela sabedoria, por algo que nos permita ascender, que nos sirva de aspiração a um estado de sapiência sem limites, à pretensão de reduzir a ignorância e perplexidade que sentimos perante nós mesmos e o mundo que nos rodeia é, sem dúvida, um dos aspectos que nos permite vingar no mundo e deixar a nossa marca pela História. Não é à toa que o conhecimento, nomeadamente científico e tecnológico, nos permitiu e nos permite superar as nossas fragilidades enquanto seres animais.
Todavia, os seus avanços obrigam-me a reflectir incessantemente e a questionar-me enquanto ser humano. Bem, tenta ver as coisas sobre o meu ponto de vista, ainda que este seja tão insignificante e imaturo quando comparado com o teu:
Observa o caso da clonagem. Pensar que caso algo de mal nos aconteça, existe uma maneira pela qual nos podemos salvar, é algo de espectacular. Como sabes, todo o ser humano tem a secreta esperança de viver para sempre, no entanto, eu pergunto-me: será correcta a clonagem de seres humanos?
Infelizmente, o Homem nem sempre utiliza o poder do conhecimento para boas causas. Salvar vidas humanas, é correcto, certo? Contrariar a selecção natural é um acto humanitário, não é? Pois, eu penso que sim. A verdadeira questão é: que preço estamos dispostos a pagar por isso?
Ainda no outro dia li, numa revista científica, que se não fossem as associações que promovem a ética e os valores humanos, nomeadamente na Medicina, já teriam sido fabricados clones sem cabeça de maneira a que se lhe pudessem extrair os órgãos, a pele, etc., para transplantes cirúrgicos.
É então que eu me pergunto: estará isto correcto? Será que matar esses clones, mesmo que estes não tenham cabeça, não será um crime? Será correcto e moralmente aceitável fazê-lo?
Numa sociedade onde o conhecimento científico e tecnológico é tão esmerado, tão incentivado e onde os valores morais estão cada vez mais esquecidos e deturpados, o perigo é iminente. Até ao momento, tem havido algumas entidades que dizem NÃO a estas brutalidades.
No entanto, o meu medo é que, com o desprezo crescente pelos verdadeiros valores que caracterizam a Humanidade, amanhã o ser humano não saiba distinguir entre o que está correcto e o que está errado, entre o que é humano e o que é monstruoso.
Penso que, se a verdade, o amor, a justiça e a dignidade humana continuarem a ser relativizadas, os humanos perderam aquilo que realmente os define: a compaixão, a generosidade; para passarem a ser autênticos monstros frios e sem escrúpulos.
Como tal, enquanto adulta de amanhã, não deixarei que as implicações éticas se afastem do conhecimento científico e tecnológico, no que toca à minha pessoa e a todas aquelas que eu conseguir alcançar, pois, sem elas, “ a corda infinita esgotar-se-á e cairemos num poço sem fim, sem que alguém nos possa alcançar”.
Ana Falcão, 10ºA, n.º2
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