quarta-feira, 31 de maio de 2023

Dia Mundial da Criança – 1 de junho

Ilustração: prof. Adalberto Carvalho

Tempo para ser criança 

Quando comecei a ser criança havia tempo, tempo para ser criança. 

Tinha tempo para não fazer nada. Tinha tempo para ficar calada ou tagarelar. 

O compasso do tempo era marcado pelas quatro estações do ano (primavera, verão, outono e inverno) que nos visitavam como família e era uma festa! 

Fui sempre uma criança que brincava livre como os pássaros e o vento; 

Corria pelas ruas, saltava sobre o monte das giestas, dançava à roda com todas as crianças da aldeia; 

Imaginava e recriava os brinquedos que não tinha; 

Ouvia histórias e estórias à lareira; 

Recebia de presente laranjas, no Natal; 

Rezava com a minha avó o “Pai Nosso Pequenino” ao deitar; 

Chapinhava sobre a neve derretida; 

Escorregava sobre a água gelada do ribeiro; 

Ouvia cantar o cuco do alto dos carvalhos; 

Viajava em barquinhos casca de noz pelos regatos de água límpida; 

Colhia flores multicolores que perfumavam os campos; 

Bebia água fresca por palhinhas verdes de junco nas nascentes; 

Subia às cerejeiras e figueiras para saborear os primeiros frutos; 

Aprendia as primeiras letras e algarismos no meio de muitos meninos que andavam na escola; 

Fazia ecoar com alegria a minha voz no cimo dos barrocos; 

Comia pão com nata polvilhado de açúcar; 

Fazia os “deveres” sentada num banquinho de pedra; 

Colhia amoras poeirentas pelas veredas; 

Descobria a magia da Biblioteca (itinerante) quando, de mão dada com o meu avô, entrava na tão esperada carrinha cor de laranja; 

Deixava-me fascinar com o colorido das lombadas dos livros tão juntinhos; 

Desenvolvia o gosto genuíno pela leitura lúdica; 

Andava de bicicleta pelos caminhos como se não houvesse tempo. 

Hoje, continuo a ter tempo para ser criança. 

Continuo a ter expectativas, a comover-me com as coisas simples, a experienciar a beleza e a sonhar. 

Os sonhos dão-me asas para voar até ao reino da fantasia e ser o que quiser ser. 

“O tempo é uma bola redonda que ainda não parou de andar”. 

Quero continuar a receber laranjas e a ser criança! 

Autora: prof. Cristina Ferreira (Texto autobiográfico) 

Publicação: Biblioteca Escolar

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom. Parabéns!

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