segunda-feira, 8 de maio de 2023

A Magia da Palavra

Para celebrar o Dia Mundial da Língua Portuguesa (5 de maio) recordo a primeira estrofe do poema AS Palavras de Eugénio de Andrade:

São como um cristal,

as palavras.

Algumas, um punhal,

um incêndio.

Outras,

orvalho apenas.

Com palavras se ama, se odeia. Algumas palavras têm outras como filhas: andam acompanhadas delas e ensinam-lhe a brincar e a ser felizes. Em bandos, formam os textos que podemos ler com emoção, alegria e prazer. As palavras, como lâmpadas, iluminando, trazem com elas um feitiço aos livros para perfumar a linguagem. É urgente plantar palavras, noite e dia, mas tratar delas, cuidadosamente, regá-las, fazê-las crescer, guardá-las dentro de nós capazes de nos fazerem viver, engrandecendo o nosso mundo.

Deus escreveu o mundo numa linguagem poética e nós somos esse poema. Somos palavras desse poema muito específicas. Onde há palavras, há Deus. Onde nasce a palavra, nasce Deus, logo, cada som, cada letra, cada frase devem ser, cuidadosamente, tratadas e admiradas.

Pedro Chagas Freitas escreveu que “O céu só existe para que seja possível voar”. Eu aproveito e atrevo-me a dizer que a nossa língua, a língua portuguesa, existe para ser amada por todos nós.

Os livros são as melhores das companhias. As palavras sábias e formosas que recolhemos neles transformam-nos em pessoas melhores. Cada livro, cada volume tem uma alma. Ensinar palavras é ensinar o mundo. A vida é um belíssimo livro. Ninguém pode fazer uma excelente leitura desse livro se não aprender a ler as pequenas palavras. /As palavras simples.

O modo mais emocionante de ler, é saber ler nas entrelinhas, descobrindo o que as palavras não disseram, transformando, no fundo, o leitor em autor da sua história. Séneca afirmou “Sem estudar a alma adoece…”. Sócrates disse “a verdadeira sabedoria está em reconhecer a própria ignorância.” Sem leitura não há bastidores, não há linhas, não há poesia, que juntas com a alma trazem o sossego e acalmam o pensamento.

Uma biblioteca é uma atmosfera feiticeira; os livros por ler são milhões de páginas abandonadas e um universo de almas sem dono que se afundam num oceano de escuridão. Maria João Lopo de Carvalho no seu livro “Marquesa de Alorna” escreve que existem “livros vaidosos e coquetes, orgulhosos da sua encadernação e da sua lombada…livros que merecem ser amados…livros que são obras de arte que parecem telas e seduzem pela beleza. Lá dentro, guardam segredos…”

Que maravilha, que delícia para quem ama as palavras, usá-las na arte da sedução?!

A voz tem de ser capaz de soar lançando no ar ondulações vibrantes. O poema está na voz, não no verso. O ser humano quando aprende, não fica a saber mais, mas fica a ignorar menos. O alfabeto poderá tornar-se demasiado pequeno e as letras insuficientes para exprimir o tamanho de cada mensagem.

E precisamente em A Mensagem, Fernando Pessoa, poeta maior da literatura portuguesa, no seu poema “O Mostrengo” enalteceu e valorizou a língua lusa em toda a sua obra, orientou o seu pensamento para “A minha Pátria é a Língua Portuguesa” e sonhou.

«Aqui ao leme sou mais do que eu:

Sou um Povo que quer o mar que é teu;

E mais que o mostrengo, que me a alma teme

E roda nas trevas do fim do mundo;

Manda a vontade, que me ata ao leme,

De El-Rei D. João Segundo!»

Texto: prof.ª Cristina Ferreira

Pinhel, 5 de maio de 2023

Publicação: Biblioteca Escolar

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