Para celebrar o
Dia Mundial da Língua Portuguesa (5 de maio) recordo a primeira estrofe do
poema AS Palavras de Eugénio de
Andrade:
São como um
cristal,
as palavras.
Algumas, um
punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Com palavras se
ama, se odeia. Algumas palavras têm outras como filhas: andam acompanhadas
delas e ensinam-lhe a brincar e a ser felizes. Em bandos, formam os textos que
podemos ler com emoção, alegria e prazer. As palavras, como lâmpadas,
iluminando, trazem com elas um feitiço aos livros para perfumar a linguagem. É
urgente plantar palavras, noite e dia, mas tratar delas, cuidadosamente,
regá-las, fazê-las crescer, guardá-las dentro de nós capazes de nos fazerem
viver, engrandecendo o nosso mundo.
Deus escreveu o
mundo numa linguagem poética e nós somos esse poema. Somos palavras desse poema
muito específicas. Onde há palavras, há Deus. Onde nasce a palavra, nasce Deus,
logo, cada som, cada letra, cada frase devem ser, cuidadosamente, tratadas e
admiradas.
Pedro Chagas
Freitas escreveu que “O céu só existe para que seja possível voar”. Eu
aproveito e atrevo-me a dizer que a nossa língua, a língua portuguesa, existe
para ser amada por todos nós.
Os livros são as
melhores das companhias. As palavras sábias e formosas que recolhemos neles
transformam-nos em pessoas melhores. Cada livro, cada volume tem uma alma.
Ensinar palavras é ensinar o mundo. A vida é um belíssimo livro. Ninguém pode
fazer uma excelente leitura desse livro se não aprender a ler as pequenas
palavras. /As palavras simples.
O modo mais
emocionante de ler, é saber ler nas entrelinhas, descobrindo o que as palavras
não disseram, transformando, no fundo, o leitor em autor da sua história.
Séneca afirmou “Sem estudar a alma adoece…”. Sócrates disse “a verdadeira
sabedoria está em reconhecer a própria ignorância.” Sem leitura não há
bastidores, não há linhas, não há poesia, que juntas com a alma trazem o
sossego e acalmam o pensamento.
Uma biblioteca é
uma atmosfera feiticeira; os livros por ler são milhões de páginas abandonadas
e um universo de almas sem dono que se afundam num oceano de escuridão. Maria
João Lopo de Carvalho no seu livro “Marquesa de Alorna” escreve que existem
“livros vaidosos e coquetes, orgulhosos da sua encadernação e da sua
lombada…livros que merecem ser amados…livros que são obras de arte que parecem
telas e seduzem pela beleza. Lá dentro, guardam segredos…”
Que maravilha,
que delícia para quem ama as palavras, usá-las na arte da sedução?!
A voz tem de ser
capaz de soar lançando no ar ondulações vibrantes. O poema está na voz, não no
verso. O ser humano quando aprende, não fica a saber mais, mas fica a ignorar
menos. O alfabeto poderá tornar-se demasiado pequeno e as letras insuficientes
para exprimir o tamanho de cada mensagem.
E precisamente
em A Mensagem, Fernando Pessoa, poeta
maior da literatura portuguesa, no seu poema “O Mostrengo” enalteceu e
valorizou a língua lusa em toda a sua obra, orientou o seu pensamento para “A minha Pátria é a Língua Portuguesa” e
sonhou.
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo;
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
Texto: prof.ª
Cristina Ferreira
Pinhel, 5 de
maio de 2023
Publicação:
Biblioteca Escolar
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